terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Da série: Trocas com Lea

Cada momento que se seguiu à leitura das “duas listrinhas” (beijo Roberta!) rende textos, de modo que para dizer disso em algumas postagens meu “era uma vez” vai ser assim:

No dia 19 de março de 2013 fiz o teste de gravidez e deu positivo. Brincava com a ideia, mas não tinha motivos para acreditar na consubstanciação do abstrato que isso era. Surtei oficialmente na madrugada daquele dia. Depois, foi um compartilhar de crescimento sem fim entre meus pares, todo mundo que acompanhou a barriga de Clarice se transformou com ela. A troca sempre de muito amor envolvido.

23 de abril de 2013 - Lea
De vez em quando me pego pensando na grávida Elis. Ainda não sei qualificar tais pensamentos em palavras. Uso, então, o Ney para dizer. Seja a canção o bem para ambos. Que se trave a guerra de uma vida melhor. Também para ambos: 

24 de abril de 2013 - Elis
De vez em quando também me pego pensando na grávida.
Bom, primeiro: você me levou às lágrimas. Pelo pensamento, pelo gesto e pelo presente. Música é daquele presentes que a gente não esquece e que não fica nunca pra trás. Ouvi a música três vezes seguidas.
Haverá guerra ainda? Sim, haverá guerra sempre. Tomara que não aquelas que a gente está achando até chato ainda ter de lutar.
Amiga, do momento que soube que ia ter criança a guerra começou. Vi tudo dentro de mim se multiplicar, de repente eu era várias. A que tinha orgulho de poder parir, como se isso de alguma forma me integrasse ao exército das que me precederam e, nesse sentido, estendia "ser mulher" (e essa sensação é totalmente irracional).
A que ainda não tinha admitido querer passar por isso e se via um tanto embaraçada em lidar com a notícia (depois de dois testes, sendo um de sangue, eu pedi confirmação ao obstetra da gravidez, ele ficou com um pouco de pena de mim). A que não sabia onde ia colocar a existência da criança em meio a tantos outros planos, teorias e projetos. Imagina, no meio de uma pós, e começando um curso de formação em psicanalítica?! Metade da minha semana é em outra cidade!
Daí a gente entende o motivo de a criança não vir em três meses, não dá tempo pra entender o que está acontecendo em três meses. E olha que eu já estou na décima semana. Faz hoje.
A partilha de si não pára. O mundo aparece então em toda sua carência de coisa em broto, e é assustador. Como um polvo, as frases feitas ganham novo alcance, e todos querem já demandar seu quinhão. Não se pode tirar o menino do mundo, nem se pode retirar e deixá-lo por si. Que será ele quando crescer? Essa é a pergunta que quero garantir aberta enquanto ele não puder fazê-lo.
Acho que essa é a guerra que virá. Ficar, mas não muito. Ausentar-se, mas deixar claro que a volta é sempre possível. Lea, tem uma pessoa pra chegar, ainda este ano, vem morar comigo. E compartilharemos a descoberta dessa pessoa enquanto sujeito. Cara...! Vou precisar de todos os amigos e músicas, e poesias que puder ter!
Ah, least but not last de jeito nenhum, fico eu alimentando a Elis que continua a trabalhar, a estudar e a transitar pelo mundo (temporariamente mais careta) do meu jeito mesmo, servindo de canguru pra menino É uma loucura!
Tem uma outra música que ando ouvindo (o link dela vai aqui em baixo), já conhecia e achava bonita mas via um sentido só. Tinha que respirar o bebê. Hoje ouço ela pra mim, o "tinha quer respirar" é lembrete pra mim, pra mãe. "Todo dia." 
https://www.youtube.com/watch?v=zqdTN6a_yFE
Beijos linda, e obrigada.
- Elis Barbosa

Nenhum comentário:

Postar um comentário