Cada
momento que se seguiu à leitura das “duas listrinhas” (beijo Roberta!) rende textos, de modo que
para dizer disso em algumas postagens meu “era uma vez” vai ser assim:
No dia 19
de março de 2013 fiz o teste de gravidez e deu positivo. Brincava com a ideia,
mas não tinha motivos para acreditar na consubstanciação do abstrato que isso
era. Surtei oficialmente na madrugada daquele dia. Depois, foi um compartilhar
de crescimento sem fim entre meus pares, todo mundo que acompanhou a barriga de
Clarice se transformou com ela. A troca
sempre de muito amor envolvido.
23 de abril de 2013 - Lea
De vez em quando me pego
pensando na grávida Elis. Ainda não sei qualificar tais pensamentos em
palavras. Uso, então, o Ney para dizer. Seja a canção o bem para ambos. Que se
trave a guerra de uma vida melhor. Também para ambos:
24 de abril de 2013 - Elis
De vez em quando também me pego pensando na grávida.
Bom, primeiro: você
me levou às lágrimas. Pelo pensamento, pelo gesto e pelo presente. Música é
daquele presentes que a gente não esquece e que não fica nunca pra trás. Ouvi a
música três vezes seguidas.
Haverá guerra
ainda? Sim, haverá guerra sempre. Tomara que não aquelas que a gente está
achando até chato ainda ter de lutar.
Amiga, do momento
que soube que ia ter criança a guerra começou. Vi tudo dentro de mim se
multiplicar, de repente eu era várias. A que tinha orgulho de poder parir, como
se isso de alguma forma me integrasse ao exército das que me precederam e,
nesse sentido, estendia "ser mulher" (e essa sensação é totalmente
irracional).
A que ainda não
tinha admitido querer passar por isso e se via um tanto embaraçada em lidar com
a notícia (depois de dois testes, sendo um de sangue, eu pedi confirmação ao
obstetra da gravidez, ele ficou com um pouco de pena de mim). A que não sabia
onde ia colocar a existência da criança em meio a tantos outros planos, teorias
e projetos. Imagina, no meio de uma pós, e começando um curso de formação em psicanalítica?!
Metade da minha semana é em outra cidade!
Daí a gente entende
o motivo de a criança não vir em três meses, não dá tempo pra entender o que
está acontecendo em três meses. E olha que eu já estou na décima semana. Faz
hoje.
A partilha de si
não pára. O mundo aparece então em toda sua carência de coisa em broto, e é
assustador. Como um polvo, as frases feitas ganham novo alcance, e todos querem
já demandar seu quinhão. Não se pode tirar o menino do mundo, nem se pode
retirar e deixá-lo por si. Que será ele quando crescer? Essa é a pergunta que
quero garantir aberta enquanto ele não puder fazê-lo.
Acho que essa é a
guerra que virá. Ficar, mas não muito. Ausentar-se, mas deixar claro que a
volta é sempre possível. Lea, tem uma pessoa pra chegar, ainda este ano, vem
morar comigo. E compartilharemos a descoberta dessa pessoa enquanto sujeito.
Cara...! Vou precisar de todos os amigos e músicas, e poesias que puder ter!
Ah, least but not
last de jeito nenhum, fico eu alimentando a Elis que continua a trabalhar, a
estudar e a transitar pelo mundo (temporariamente mais careta) do meu jeito
mesmo, servindo de canguru pra menino É uma loucura!
Tem uma outra
música que ando ouvindo (o link dela vai aqui em baixo), já conhecia e achava
bonita mas via um sentido só. Tinha que respirar o bebê. Hoje ouço ela pra mim,
o "tinha quer respirar" é lembrete pra mim, pra mãe. "Todo
dia."
https://www.youtube.com/watch?v=zqdTN6a_yFE
Beijos linda, e
obrigada.
- Elis Barbosa
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